Esquadrão biológico


Esquadrão biológico

Insetos e microorganismos criados em laboratório formam um exército para controlar pragas e transmissores de doenças.

A guerra contra a dengue pode ganhar um reforço nos próximos anos. E o batalhão que ajudará a combater a doença, que mata cerca de 20 mil pessoas por ano em todo o mundo, não será formado por um enorme grupo de voluntários que distribui folhetos de orientação. A ajuda virá dos laboratórios das universidades, direto das pesquisas com manipulação genética. Em outubro 2009, pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) receberam autorização para fazer testes com uma nova espécie transgênica do mosquito Aedes aegypti, principal vetor do vírus. Outros seis países também estão avaliando o inseto geneticamente modificado pela Oxitec, empresa incubada na Universidade de Oxford, na Inglaterra.

O alvo é atacar o aumento da população dos mosquitos transmissores da dengue. Para isso, os pesquisadores estão fazendo uma experiência com os machos da espécie. Normalmente, os insetos têm no corpo uma toxina natural que controla a renovação das células, determinando quando elas devem morrer para dar lugar às novas. Dois genes atuam nesse processo. O primeiro ativa o segundo, que é o responsável pela liberação da toxina. É esse processo que o experimento altera. O primeiro gene é reprogramado para só autorizar a liberação da toxina na ausência de um antibiótico. Ao copular com os insetos geneticamente modificados, as fêmeas Aedes aegypti geram ovos com essa característica.

Veja quadro :



Como as larvas se desenvolvem em ambientes sem o antibiótico, automaticamente seus genes liberam a toxina, que as leva à morte em torno de sete dias. Margareth Capurro, coordenadora dos testes com o mosquito no Brasil, aposta também em outra frente para o controle da dengue. Há mais de dez anos ela estuda uma forma de mexer no DNA do Aedes aegypti e do Anopheles, gênero do mosquito transmissor da malária. “A ideia é introduzir na população genes que ataquem o vírus da dengue ou o parasita da malária”, diz. Por enquanto, ela trabalha principalmente com o mosquito transmissor da dengue. Uma proposta é modificar anticorpos de camundongos e inseri-los nos mosquitos.

No organismo dos insetos, essas células reconhecem o vírus e impedem-no de atingir a glândula salivar do inseto. Em laboratório, o método já conseguiu bloquear 99% do vírus. “Mas esse 1% é suficiente para passar a doença”, afirma a pesquisadora. Por isso, Margareth está produzindo uma espécie de coquetel de moléculas para aumentar a eficiência da técnica.

Inseticidas naturais
Enquanto estudos como esse ainda estão nos laboratórios, uma nova alternativa para o combate aos transmissores de doenças é o controle biológico, popularizado na agricultura, sobretudo em grãos e frutas, há mais de 30 anos. Um projeto pioneiro no Brasil está sendo conduzido na Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). A pesquisadora Rose Monnerat, coordenadora do estudo, testou a atuação de cerca de 2 700 bactérias sobre as larvas dos mosquitos da dengue e da malária para desenvolver dois bioinseticidas, o Bt-horus e o Sphaerus. As bactérias dos inseticidas destroem o intestino das larvas e as matam.

Os produtos já estão sendo vendidos pela empresa de manejo integrado de pragas Bthek, ao custo mensal médio de 30 centavos por residência.

Em 2007, na cidade de Três Lagoas, no Mato Grosso do Sul, o Bt-horus foi aplicado em metade dos bairros. As regiões registraram apenas cinco casos de dengue. Nas áreas onde o produto não foi utilizado, o número de pessoas diagnosticadas com a doença foi de 344. Naquele ano, o município de São Sebastião liderava o ranking da dengue nas cidades do Distrito Federal. Depois de cinco meses de tratamento com o inseticida, o índice de infestação domiciliar caiu de 4,6% para 0,6%.
 
Fonte : Planeta Sustentável  (Revista InfoExame – 12/2009)

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